Em fevereiro de 2013 eu estava meio desanimada com a fotografia. Como já citei anteriormente, em alguns momentos pensei em me afastar dos clicks, e fevereiro de 2013 foi um desses momentos.
Acontece que, em Salvador, o mês de fevereiro abriga uma das festas mais populares, entre as festas populares: a Festa de Iemanjá no Rio Vermelho.
Eu tenho um fascínio pessoal com o 02 de Fevereiro. Talvez por morar próximo (a comunidade do Nordeste de Amaralina fica ao lado do bairro do Rio Vermelho), talvez por algo que esteja além da minha compreensão. Já fui em vários anos, e fico triste sempre que algo me impede de marcar presença.
Em fevereiro de 2013 não foi diferente. Apesar da vontade de me fazer presente na festa, neste ano não quis levar minha câmera. Fui pra festa só com meu celular. Era um aparelho simples. Um Smartphone, é verdade, porém bem básico. Chegando na Praia da Paciência vi aquele mar... de pessoas, de cores, de energias...
Lá estava eu, na Festa de Iemanjá, várias possíveis imagens formando-se na minha frente e se dissipando tão rápido quanto se formara. E aí eu não resisti. Saquei meu celular e comecei a fotografar.
Pra mim, a Festa de Iemanjá no Rio Vermelho é um dos momentos com mais fotógrafos por m². Tem pessoas fotografando em todo lado (eu inclusa). Confesso que no início me senti intimidada em fotografar com meu "celularzinho" no meio de tantas câmeras e lentes. Mas decidi me concentrar no que me levou lá, a Festa!
Não pude deixar de registrar uma cena curiosa: em certo momento uma senhora que estava na praia chamou a atenção dos fotógrafos do entorno. Logo ela começou a fazer pose, e todos se espremeram e contorceram pra enquadrá-la, clicando freneticamente. Até hoje tenho curiosidade de ver o resultado dos demais fotógrafos.
Uma observação se faz necessária: é natural se empolgar nessas situações em que tantas possíveis fotos estão passando na frente da sua lente. Porém, não se pode esquecer o objetivo da festa. É uma cerimônia religiosa. É preciso ter cuidado para não atrapalhar nem desrespeitar o espaço de culto e os rituais dos devotos.
Fotografei sem nenhuma pretensão, sem nenhuma pressão interna pra conseguir a foto "vencedora de concursos". Ao chegar em casa e passar as fotos para o computador, percebi que tinham um certo padrão. "Inconscientemente" dei preferência a captar personagens no lugar da situação como um todo. E usando algumas ferramentas de pós-produção, trabalhei as fotos para "destacar" ainda mais esses personagens.
Mostrei a alguns amigos e familiares. Uma pessoa em especial ficou impressionado com o resultado. Tiago insistiu que eu deveria fazer uma exposição. Não levei a sério, pra falar a verdade. Ele passou muito tempo insistindo nessa ideia. Uma das muitas razões pelas quais eu não botava fé, era como cobrir os custos. Eu não tinha recursos pra isso. Então, surgiu a ideia de uma financiamento coletivo (nome pomposo pra velha vaquinha... hahaha). Arrecadamos parte do dinheiro necessário, e o restante eu e ele completamos.
E em junho de 2016, a exposição entrou em cartaz no Teatro Jorge Amado.
Além das pessoas maravilhosas que contribuíram financeiramente e ajudaram de diversas formas, recebi o apoio de Nel Araújo, diretor do Teatro Jorge Amado na ocasião, e do Ateliê Carla Calixto, que confeccionou lembranças para o dia da abertura.
Até hoje algumas pessoas se surpreendem quando digo que tirei as fotos com um celular. Então eu cito Ernst Haas:
- ... Mas você precisa ver!